
Caros Associados
O ano de 2024 é um marco na reorganização dos cuidados de saude em Portugal.
Por decisão da Tutela foram criadas no início de janeiro, 31 Unidades Locais de Saude (ULS), que juntando às 8 já existentes perfaz um total de 39.
Na verdade, a nível nacional são 40, se contarmos com o Sistema de Saude da Região Autónoma da Madeira (SESARAM), que desde 2007 tem uma integração vertical.
Assim a maioria da população recebe cuidados através de ULS.
Mas, como já o temos afirmado em outras ocasiões, a existência de ULS por si só não é sinónimo de Integração de Cuidados.
Para que tal aconteça é fundamental que o “core” desta reorganização seja a prestação de cuidados integrados.
A WHO indica 5 estratégias interdependentes para a criação, gestão e prestação de Serviços Integrados Centrados nas pessoas https://www.integratedcare4people.org/ipchs-framework/
Adelaide Belo
Presidente Direção PAFIC

- Envolver e fortalecer as pessoas com doença, os cuidadores e as estruturas das comunidades em várias perspetivas – literacia, autocuidados, co-produção
- Reforçar a governação a todos os níveis – do CA á governação clínica, envolvendo os representantes das comunidades, descentralizando sempre que possível e responsabilizando pelos resultados
- Reorientar o modelo de cuidados, para que os serviços sejam geridos e prestados, de forma a assegurar que as pessoas recebem um “CONTÍNUO “de promoção da saude, prevenção e gestão da doença, reabilitação, e cuidados paliativos, nas diferentes tipologias e locais onde os cuidados são prestados, de acordo com as suas necessidades durante o ciclo de vida e tendo em conta a sua vontade e dos seus cuidadores.O grande desafio é sair da organização para a gestão da doença, para uma organização para a gestão da Pessoa com doença, mas que tem também todo um conjunto de outras necessidades.
- O Despacho do Secretário de Estado da Saude sobre a “Estratificação pelo risco clínico da população portuguesa” (Despacho nº. 12986 /2023) promove a implementação de uma ferramenta, que se bem aproveitada pelas ULS, permite-lhes a elaboração da sua pirâmide de risco (Pirâmide de Kaiser) fulcral para a gestão da saude de base populacional.
- Coordenar cuidados intra e entre setores – o foco deve ser na melhoria da prestação através do alinhamento e harmonização de processos e informação entre os vários setores. Os serviços devem ser coordenados em torno da procura e das necessidades identificadas. Desta forma podem ser promovidos programas específicos ajustados a essas necessidades, tais como – Gestão de Caso para as situações mais complexas; Percursos Assistenciais Integrados; Transição de Cuidados, prevenção da obesidade, etc., sustentados por Tecnologias da Informação e Comunicação pensadas para alavancar a integração e não perpetuarem a fragmentação dos cuidados.
- Criar um ambiente favorável – para operacionalizar as 4 estratégias anteriores é necessário um ambiente propicio, que junte todos os intervenientes – profissionais, doentes/cuidadores, parceiros da comunidade, setor social e setor privado, utilizando técnicas de Gestão da Mudança, proporcionando Formação sobre os conceitos básicos de Integração de Cuidados e apoiando projetos que os profissionais no terreno queiram implementar. Em momentos anteriores a Tutela criou condições para a mudança – Unidade de Missão para a Reforma dos CSP; Unidade Missão Hospitais, RNCCI e mais recentemente a Hospitalização Domiciliária, o que prova que quando há uma aposta num determinado caminho somos capazes de fazer acontecer. Não houve esta aposta na criação das 8 ULS existentes anteriormente, que foram aparecendo desgarradas, sem qualquer “rede”, nem sempre com objetivos específicos de integração de cuidados e sem formação dos profissionais (do topo á base), para a mudança necessária.
